Há 4 anos completei o curso de engenharia florestal e esse curso é repleto de aulas práticas, então acampamentos e trilhas são elementos que conheço bem e confesso que eu não fazia as aulas com amor, fazia para passar nas disciplinas.
E como dizem por aí “a gente só valoriza quando perde”, realmente, eu era feliz e não sabia, tive a oportunidade de curtir tanto e fazer mais amigos, poderia ter vivido mais cada aula prática do curso e apreciado mais a natureza. Mas, não estou aqui para chorar o leite derramado, todas essas aulas me fizeram admirar nossas riquezas naturais e estou aqui para dizer que nunca é tarde para se aproximar daquilo que te faz bem, e aquilo que te faz bem deve ser vivido, assim temos saúde para o corpo e para alma.
Floresta, água, lua, estrelas, madrugada, frio, conversa fiada e pessoas que curtem tudo isso, me fazem muito, muito, muito bem, essas experiências me energizam. Vamos às lições:
A caminhada na floresta é uma oportunidade de um encontro consigo mesmo
Cada passo que damos nas trilhas são carregados de uma concentração forçada, acredito que aqueles que não conseguem desligar dos problemas devem fazer caminhadas na mata. Essa concentração é imposta pela condição em que nos encontramos naquela situação, pois objetivo da trilha é chegar em algum lugar, de um lado tem árvores e do outro também, atrás e na frente existem companheiros imersos em seus pensamentos, e poupando energia para conseguir chegar ao local destinado. Então, a única coisa que você pode fazer é pensar na vida, e isso em um ambiente propício: o verde, os pássaros, o cheiro, o silêncio, os barulhos misteriosos… não temos opção a não ser nos encontrarmos com nós mesmos. Pensamentos de longe e pensamentos de perto no fazem companhia em meio aos obstáculos.
A caminhada na floresta nos mostra o quanto somos fortes
Não adianta, entrou tem que sair. Quando você inicia a trilha está fadado a concluí-la, seja com passos rápidos ou lentos, seja mancando, com dor, não importa, você vai ter que sair. A medida que o tempo passa as penas ficam mais pesadas, a bagagem triplica de peso, a respiração fica ofegante, ao ponto de você ouvir a sua e dos companheiros, os pés doem… mas você não tem outra opção a não ser parar um pouquinho, hidratar, sair dos seus pensamentos, ver se está tudo bem com os companheiros e seguir em frente.
Essa pequena guerra travada entre o ambiente e seu corpo vão te levar ao prêmio, no caso a cachoeira da Neblina. E você percebe que se não fossem as circunstancias impostas pela floresta, as possibilidades de desistir seriam mais fáceis, mas a floresta te obriga a buscar as forças que você nem sabia que tinha.
O banho na cachoeira te reinicia
E tudo vale a pena quando contemplamos e aproveitamos a cachoeira, a água geladinha e refrescante… “é o fruto do penoso trabalho”, é o prêmio por não desistir, por sair da zona de conforto, sair da frente da TV, por enfrentar a estrada, por carregar a mochila pesada. O som das águas caindo, tem o poder de fazer seus ouvidos, corpo e a alma descansarem. E aí, você guarda aquele som e aquela imagem na memória e a chama para sua vida quando precisar descansar novamente.
O céu estrelado, a lua e a boa conversa são ingredientes que compõem a felicidade
Eu particularmente sempre amei tomar banho de rio a noite, é quando a água está mais fria, mais calma, quando não tem barulho e quando a temperatura está pelo menos mais agradável que durante o dia (pelo menos em Manaus), aí sim é a hora de mergulhar. Agora ter isso e mais um céu estrelado, uma lua brilhante, o som da cachoeira e muitas rizadas… cara… aí eu posso dizer: Preciso para ser eu!
As trilhas são oportunidades para correntes do bem
A falta de hábito em fazer caminhadas longas podem fazer seu corpo sofrer, e aí você se arrepende de ter assistido muitos filmes no sofá ao invés de andar de bicicleta ou ir para academia. Eu consegui uma distensão muscular que me impediu de continuar a caminhada de volta no mesmo ritmo dos companheiros, porque eu não conseguia levantar a perna esquerda. E quando acordei, com a perna doendo, pedi a Deus que me permitisse fazer os 6 km de trilha de volta, e eu imaginei que Ele faria minha dor sumir, mas Ele quis me ensinar uma outra lição: “o bem está em todo lugar”. Os companheiros foram parceiros até o fim, e eu tenho agora a missão de retribuir o bem que me foi feito, eu saí da floresta graças à eles.
E assim terminou meu fim de semana. Estou quebrada, mas muito feliz e com uma autodescoberta que só a floresta poderia me proporcionar.
Valeu Deus, agora eu sei mais do que nunca que você criou tudo que há só para nos fazer feliz!
29 de dezembro de 2014
Cintia Fernandes
Categoria: Amazônia
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